terça-feira, 28 de julho de 2015

Coração de gelatina

Trilha para o post:



Ao longo da vida, a gente vai ouvindo tanta coisa. O que não falta são ditados, máximas, frases de efeito, emaranhados de palavras tidas como verdade absoluta, que tendemos a aplicar a tudo, como se fôssemos iguais. Esquecemos nossas histórias, nossas particularidades, nossos pensamentos mais absurdos, nossos sentimentos mais ocultos.

"Quanto mais o coração apanha, mais duro ele fica." - quantas vezes você já ouviu isso? Não sei você, caro leitor, mas comigo isso não funciona. Pelo contrário, parece que cada pancada que o vermelhinho aqui leva, ele vai ficando mais mole, tipo gelatina, que batem de um lado e a gente sente do outro. E assim como a gelatina, ele nem cicatriza mais. Não tem o que cicatrizar, não feriu nada. Mas a pancada fica. O machucado fica. E garanto a você que dói muito mais. Quando fere, cria casca, cicatriza e para de doer. Quando não fere, é porque a pancada foi certeira. Pegou  em cheio. A dor é mais forte, mais demorada.

Meu coração é um mundo de hematomas. Em cada país, uma história. Em cada cidade uma boa dose de sofrimento. Às vezes vejo esse pessoal saindo de um relacionamento "lindo e perfeito" e entrando em outro "mais lindo e perfeito ainda". Eu me pergunto se essa galera ama fácil ou nunca amou de verdade. Esquece rápido ou é o velho medo de ser só? Porque, novamente, a vida inteira a gente ouviu que "é impossível ser feliz sozinho". Sei não. Tenho lá minhas dúvidas. Às vezes eu acho que de tanto a gente procurar a felicidade no outro, deixamos de enxergá-la dentro de nós mesmos. Não esqueçam que a gelatina tem cor, mas no fundo é transparente. Nosso coração é assim: quem vê por fora não faz ideia do sabor que tem por dentro. Evite pancadas de quem não está disposto a conhecê-lo de verdade. Ver é fácil. É no enxergar que mora a dificuldade.